segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Centenário de Messiaen na Sé de Lisboa

O centenário do compositor Olivier Messiaen está a ser assinalado na Sé de Lisboa, desde sábado, com a execução da integral de concertos para órgão, numa organização do pároco da Sé, Luís Manuel Pereira da Silva. Aqui fica o programa dos concertos que ainda nos esperam. Os textos são de António Esteireiro, do Instituto Gregoriano de Lisboa:


Nascido a 10 de Dezembro de 1908, Olivier Messiaen tornou-se mundialmente conhecido não só como compositor mas também como executante, fundamentalmente das suas próprias composições. A sua música caracteriza-se por um profundo sentimento religioso aliado a uma grande componente mística, continuando ainda hoje, dezasseis anos após a sua morte a servir de inspiração a várias gerações de intérpretes e compositores. A apresentação da sua obra integral para órgão na Sé Patriarcal de Lisboa surge no contexto da comemoração do centésimo aniversário deste compositor profundamente católico. Como introdução aos seus textos musicais o compositor propõe textos bíblicos e patrísticos para reflexão que serão comentados no contexto do concerto pelo Cónego Luís Manuel Pereira da Silva. Através da apresentação destes concertos pretende a Sé Patriarcal de Lisboa, com a colaboração do Instituto Gregoriano de Lisboa, dar a conhecer uma parte fundamental do património musical do século XX.


Terça, 2 de Dezembro de 2008, 21h30
Livre d’Orgue (1951-52)
Giampaolo Di Rosa/Roma-Porto
O terceiro concerto desta integral para órgão apresenta o ciclo mais complexo e abstracto que Messiaen dedicou ao seu instrumento de eleição durante mais de 60 anos. De carácter claramente especulativo e fazendo uso de várias técnicas combinatórias é resultado da influências dos cursos de Darmstadt, onde Messiaen também leccionou em 1951 e das paisagens montanhosas dos Alpes e Delfinato, local de criação deste ciclo. Este concerto traz mais uma vez até Lisboa Giampaolo Di Rosa, professor de Órgão da Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa – Centro Regional do Porto. Detentor de uma carreira de reconhecido mérito internacional, Giampaolo Di Rosa divide o seu tempo entre a uma intensa actividade artística e a investigação científica na área da música. O concerto será comentado pelo próprio intérprete que nos tentará ajudar a compreender um pouco melhor a complexidade desta proposta musical de Messiaen.


Sábado, 6 de Dezembro de 2008, 21h30
Meditations sur le Mystère de la Sainte Trinité (1969)
Edite Rocha e Classe de órgão da Universidade de Aveiro
No seguimento da celebração do centenário do nascimento de Olivier Messiaen, associa-se a esta integral outra das principais instituições de ensino superior de música em Portugal. O quarto concerto desta Integral das Obras para Órgão de Olivier Messiaen resulta de um projecto concretizado pela classe de órgão da Universidade de Aveiro sob a orientação da professora Edite Rocha. O ciclo de nove meditações sobre o Mistério da Santíssima Trindade foi à data da sua composição a maior obra para órgão escrita pelo compositor. Inspirado pela reinauguração do seu instrumento de eleição na Igreja da Santíssima Trindade em Paris, e pelas improvisações realizadas nesse concerto inaugural, Messiaen funde neste ciclo elementos fundamentais na sua escrita para órgão. Ao combinar o canto dos pássaros com citações de temas do repertório de canto gregoriano e com técnicas típicas da sua linguagem musical, consegue criar uma das mais importantes obras para órgão do século XX.


Terça, 9 de Dezembro de 2008, 21h30
Livre du Saint Sacrement (I) (1984)
Filipe Veríssimo/Porto e João Santos/Leiria
Escrito em 1984 depois de uma encomenda da cidade de Detroit, o Livro do Santíssimo Sacramento é não só a maior obra para órgão de Olivier Messiaen, mas também a última escrita pelo compositor. Criado depois da ópera São Francisco de Assis (1975-83) que ocupou o compositor ao longo de oito anos é um regresso do autor à escrita para órgão em contexto litúrgico. Devido à sua duração total, superior a duas horas, este ciclo será apresentado em dois concertos distintos mas complementares. No primeiro desses concertos ouviremos dois organistas formados na Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa, Centro Regional do Porto. Primeiramente ouviremos Filipe Veríssimo, mestre-de-capela e organista titular do órgão Jann da Igreja da Lapa no Porto, um dos instrumentos mais emblemáticos do nosso país. As intervenções musicais de Filipe Veríssimo serão intercaladas pelas de João Santos, professor de órgão em Leiria e organista titular de outro dos melhores instrumentos portugueses, o órgão Heintz da Catedral de Leiria. Trata-se de uma ocasião única de poder ouvir estes dois intérpretes em Lisboa no melhor instrumento da capital.


Quarta, 10 de Dezembro de 2008, 21h30
Missa em homenagem a Olivier Messiaen
António Esteireiro/Lisboa e Coro de Câmara e Coro Gregoriano do IGL
No dia 10 de Dezembro de 2008 celebraria Olivier Messiaen o seu centenário. Esta missa em homenagem a Olivier Messiaen repete o programa apresentado pelos mesmos intérpretes no último Festival Internacional de Órgão de Lisboa 2008, na Igreja de Nossa Senhora do Cabo em Linda-a-velha. A escolha do repertório para este recital tenta fazer uma síntese entre as várias práticas vividas por Olivier Messiaen na Igreja da Santíssima Trindade em Paris. Ao juntar no mesmo concerto obras do repertório solístico, com o Proprium gregoriano do dia e incluindo o motete O sacrum convivium, temos um pequeno vislumbre do contexto em que estas obras foram executadas originalmente. O repertório escolhido incide no período de composição que antecede a Segunda Guerra Mundial, em que foram compostos os primeiros três grandes ciclos para órgão. Os ciclos L’Ascension, La nativité du seigneur e Les corps glorieux fazem parte do repertório mais divulgado e executado de Messiaen. O Instituto Gregoriano de Lisboa é provavelmente a instituição portuguesa com maior tradição no ensino do órgão e da defesa e divulgação do repertório de canto gregoriano e associa-se a esta comemoração do centenário do nascimento de Messiaen através da realização deste concerto.


Sábado, 13 de Dezembro de 2008, 21h30
Livre du Saint Sacrement (II) (1984)
Markus Rupprecht/Regensburg
A segunda parte do Livre du Saint Sacrement, cuja primeira parte foi apresentada no dia 9 de Dezembro, é apresentada em Lisboa por um dos mais promissores talentos da nova geração de organistas alemães. Oriundo da Baviera, Markus Rupprecht dividiu o seu tempo de estudos entre Regensburg, Piteå na Suécia e Viena, trabalhando com alguns dos mais reputados pedagogos do nosso tempo, como são os casos de Hans-Ola Ericsson, Michael Radulescu e Franz Josef Stoiber. Um dos focos principais do seu repertório reside no domínio integral das obras para órgão de Messiaen, que durante este ano de 2008 o levou a apresentar-se em várias cidades europeias da Alemanha, Suécia e Áustria. Neste ciclo Messiaen faz uma síntese de todos os recursos musicais utilizados ao longo da sua carreira enquanto compositor. A utilização de vários tipos de modos, do canto de alguns pássaros da Palestina, aspectos relacionados com simbolismos, linguagem comunicável ou mesmo a métrica grega, fazem desta obra um monumento incomparável no repertório para órgão do século XX. A última parte deste ciclo traz-nos as meditações cuja temática se refere a episódios relacionados com a Eucaristia.


Domingo, 14 de Dezembro de 2008, 21h30
La Nativité du Seigneur (1935)

Classe de Órgão da Universidade de Évora
No penúltimo concerto desta celebração do centenário do nascimento de Olivier Messiaen, associa-se a esta integral outra das principais instituições de ensino superior de música em Portugal. Este concerto resulta de um projecto concretizado pela classe de órgão da Universidade de Évora sob a orientação do professor João Vaz. O ciclo de nove meditações dedicado à Natividade do Senhor foi escrito em Grenoble no ano de 1935. Sendo um dos ciclos mais apreciados pelo próprio compositor, foi uma das obras que mais reconhecimento internacional lhe trouxe, devido à forma inovadora como abordou a escrita para órgão. A utilização sistemática dos modos de transposição limitada, de um componente rítmica muito inspirada pelos ritmos hindus e de temas do repertório gregoriano modificados, tornaram este ciclo um dos mais importantes marcos da escrita para órgão na primeira metade do século XX.


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