sexta-feira, 28 de maio de 2010

A entrevista do Patriarca

O Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo (JP), dá hoje uma entrevista à Rádio Renascença que merece ser lida com atenção (pode também ser ouvida e vista no site daquela emissora). Deixamos aqui dois trechos:
Sobre os movimentos carismáticos

Renascença - O Papa falou, aliás, na necessidade de acolher novos carismas...

JP - Aí está, o Papa pôs o dedo, não digo na ferida, mas no ponto quente. Porque, por um lado, a criatividade carismática é justa e sempre existiu na Igreja e, neste, últimos anos, temos vivido ao ritmo de uma grande pujança daquilo a que se chamaram novos movimentos ou novos carismas, mas isto tem que ser vivido no realismo da unidade da Igreja.

Renascença - Há, de qualquer forma, nalgumas destas novas formas eclesiais, uma certa postura quase de provocação, de desafio a uma nova postura da hierarquia. Sente isso?
JP - A provocação e o desafio têm lugar na missão da Igreja, quando se trata de quebrar o marasmo das coisas adquiridas, a incapacidade de responder às necessidades da evangelização no mundo contemporâneo. A provocação é boa.

Renascença - Vê isso como positivo?
JP - Vejo como positivo. Agora, o problema do desafio é o da unidade. Há um autor que diz, poeticamente, que é preciso que esses movimentos não façam a confusão da ostra, que confunde o oceano com a água que tem dentro da sua concha. Este é um grande desafio, de parte a parte.

Sobre o veto de Cavaco Silva

Renascença - Nos últimos quatro anos, assistimos a uma alteração da legislação da família de que o último ponto foi a promulgação da lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Desiludiu-o a atitude de Cavaco Silva?
JP - Com toda a franqueza, eu esperava que ele usasse o veto político. Sabemos a fragilidade do veto político na nossa actual Constituição, mas penso que ele, pela sua identidade cultural, de católico, precisava de marcar uma posição também pessoal. Já não lhe exigíamos que fosse tão longe como o rei da Bélgica, que abdicou por um dia para não assinar uma lei que não queria assinar. Mas se o fizesse [o veto] ganhava as eleições. Agora, não nos competia a nós dar sugestões nesse campo. Tenho pena de que o professor Cavaco Silva não tenha usado o veto político.

Renascença - Portanto, não o convenceu o argumento prático de que a lei, de qualquer forma, passaria na Assembleia e de que seria mau o atraso, o arrastar do caso...
JP - O discurso do senhor Presidente, e ele sabe a amizade que lhe tenho, levava a uma conclusão que depois não aconteceu. Temos muita difi culdade em ver como é que um veto político prejudicaria o combate à crise económica. Aquela relação causa-efeito, a mim, não me convenceu. Mas o argumento principal não era o da efi cácia política, era o do gesto dele, como pessoa, como Presidente eleito pelos portugueses e pela maioria dos votos dos católicos portugueses, de se distanciar pessoalmente. Quando assinasse, fá-lo-ia porque tinha mesmo de ser. Naquela altura, não tinha de ser.

Renascença - No fundo, quando diz que se o Presidente tivesse feito diferente ganharia as eleições, está subjacente que acha que assim as perde?
JP - Não sei. Daqui a alguns meses, comentamos isso, está bem?...

Sem comentários: