quarta-feira, 26 de março de 2014

Os católicos na luta contra a ditadura (1) – Porque os outros se calam mas tu não...

25 de Abril, 40 anos

Foi “uma homenagem a todos os que souberam dizer ‘não’ ao regime da ditadura que vigorou entre 28 de Maio de 1926 e 25 de Abril de 1974” – sobre cuja data passam este ano 40 anos –, nas palavras de José Dias, que animou o encontro. Iniciativa com características de história oral, realizou-se a 22 de Fevereiro último, no Convento de São Domingos, em Lisboa, um encontro sobre Os Católicos na luta contra a ditadura, que reuniu cerca de 180 pessoas durante uma tarde inteira.  
Organizada pelo Instituto São Tomás de Aquino, dos padres dominicanos, e pelo Movimento Não Apaguem a Memória, a iniciativa contou com testemunhos, alguns deles com histórias inéditas, depoimentos escritos e música.
Até ao próximo dia 25 de Abril, o RELIGIONLINE vai publicar os depoimentos escritos que foram lidos no encontro, além de histórias desenvolvidas a partir das informações e testemunhos ali partilhados.
A música, interpretada ao vivo por Francisco Fanhais, marcou o momento inicial. É desse momento que aqui ficam dois registos. O primeiro, um excerto de Porque, poema de Sophia de Mello Breyner:



Porque os outros se mascaram mas tu não 
Porque os outros usam a virtude 
Para comprar o que não tem perdão. 

Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados 
Onde germina calada a podridão. 

Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem 
E os seus gestos dão sempre dividendo. 
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos 
E tu vais de mãos dadas com os perigos. 
Porque os outros calculam mas tu não, tu não...


O segundo, a interpretação de Utopia, música de José Afonso:


Cidade
Sem muros nem ameias
Gente igual por dentro
gente igual por fora
Onde a folha da palma
afaga a cantaria
Cidade do homem
Não do lobo mas irmão
Capital da alegria
Braço que dormes
nos braços do rio
Toma o fruto da terra
E teu a ti o deves
lança o teu
desafio

Homem que olhas nos olhos
que não negas
o sorriso a palavra forte e justa
Homem para quem
o nada disto custa
Será que existe
lá para as margens do Oriente
Este rio este rumo esta gaivota
Que outro fumo deverei seguir
na minha rota?

(Próximo texto, dia 28: Testemunho sobre a resistência dos cristãos, de Guilherme d'Oliveira Martins)

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