terça-feira, 16 de junho de 2015

Católicos a ouvir não-crentes sobre linguagens, espiritualidades, sexualidades e convicções



“Linguagens, espiritualidades, sexualidades e convicções” é o tema da última sessão da iniciativa Escutar a Cidade, que três dezenas de grupos e instituições católicas vêm promovendo mensalmente, desde Janeiro, com o objectivo de contribuir para a reflexão preparatória do Sínodo diocesano de Lisboa.
Nesta última das seis sessões, que decorre quinta-feira, dia 18, intervêm a escritora e poetisa Ana Luísa Amaral (autora de “Entre Dois Rios e Outras Noites”), o psicólogo Telmo Baptista (bastonário da Ordem dos Psicólogos), a cineasta Margarida Cardoso (realizadora de “A Costa dos Murmúrios” e “Yvone Kane”) e a coreógrafa Madalena Vitorino (que tem trabalhado na pedagogia da dança e das artes na comunidade com actores, bailarinos, cantores e pessoas não profissionais nas artes performativas). A sessão contará também com a participação do TUT (Teatro da Universidade de Lisboa), que apresentará um excerto de A Boa Alma, de Bertolt Brecht, encenado por Júlio Martin. E o grupo organizador promete dizer o que sugere para a etapa seguinte.
A ideia do Escutar a Cidade foi pedir a pessoas não-crentes que fizessem um diagnóstico da realidade e sugerissem aos católicos e à Igreja formas de intervir nessa mesma realidade: em seis sessões, desde Janeiro, várias pessoas de diferentes quadrantes e experiências foram convidadas a dizer o que entendem da realidade de Lisboa, do país, da Europa, e de que forma a presença dos cristãos pode ser importante ou pode ainda mudar ou melhorar, em cada uma dessas áreas.

Esta proposta mobilizou 30 movimentos e instituições da Igreja Católica, que a ela aderiram como promotoras, respondendo desta forma ao apelo do patriarca de Lisboa, quando convocou um Sínodo diocesano para procurar definir o caminho da Igreja Católica no patriarcado para os próximos anos: o sonho de chegar a todos é o lema do Sínodo, chegar a muitos mais do que o habitual foi o propósito do Escutar a Cidade.
O resultado das cinco sessões já realizadas, para quem quiser ler ou escutar reflexões de grande qualidade sobre diferentes aspectos da realidade, pode ser visto aqui
“Neste processo, nós, organizadores, sentimo-nos mais acolhidos por quem quis vir partilhar a sua reflexão do que acolhedores dessas pessoas”, diz Jorge Wemans, um dos responsáveis pela dinâmica, a propósito das sessões já realizadas. “O nosso gesto pretendia ser um acolhimento de ideias e experiências, mas o que aconteceu foi que o convite foi bem recebido e por isso foram elas que nos acolheram a nós, pela disponibilidade e gratuidade com que as pessoas quiseram estar connosco.”
Este último encontro da dinâmica Escutar a Cidade realiza-se dia 18 de Junho, no Fórum Lisboa (Av. Roma), entre as 19h e as 21h. A iniciativa contou já com a participação do cardeal-patriarca, D. Manuel Clemente, e do bispo auxiliar D. José Traquina, em várias das cinco sessões anteriores. O cardeal-patriarca considerou já a iniciativa como “muito bem-vinda”. Em declarações à agência Ecclesia, D. Manuel afirmou que o processo Escutar a Cidade tem “a particularidade muito interessante de escutar vozes que não são confessionais mas que conhecem a cidade de Lisboa, a região de Lisboa e a sua problemática social, cultural, económica”.
Sendo especialistas em cada uma das suas áreas, estas vozes “dão um contributo interessante”, disse o patriarca. Para acrescentar, sobre a relação da iniciativa com o processo sinodal: “O Sínodo tem de adaptar ao patriarcado de Lisboa as perspectivas que o Papa Francisco nos dá na exortação ‘A Alegria do Evangelho’ e como é que essas perspectivas, esse tal sonho missionário, bonito, de chegar a todos, se concretizam nestas circunstâncias próprias do patriarcado de Lisboa.”
Nas sessões realizadas desde Janeiro, foram enunciados desafios pertinentesEntre eles, podem citar-se a necessária reflexão sobre o que queremos da Europa enquanto cristãos; a urgência de repensar a ideia de justiça como essencial à construção da democracia; um acolhimento das comunidades cristãs que não deixe amigos na rua, cuide dos mais velhos e dos jovens e dedique uma atenção prioritária aos mais pobres e vulneráveis; a importância do trabalho social em rede, para apoiar mais pessoas de forma mais eficaz; a construção de uma reflexão sobre a vida social e urbana que dê mais tempo e mais espaço às pessoas e à sua dignidade; a centralidade da Bíblia na vida dos crentes e das comunidades, como história narrada da relação vital de mulheres e homens com Deus.

O Escutar a Cidade foi mesmo objecto de referência no jornal do Vaticano. “L’Osservatore Romano” destacou a iniciativa, escrevendo que “a inspiração veio da exortação apostólica ‘Evangelii gaudium’, do papa Francisco: ser Igreja ‘em saída’, chegar às margens, às periferias, às fronteiras internas da sociedade, experimentar novos modos de narrar a fé, fazer comunidade”.

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